39 Anos de Cravos, venha de lá a ferradura.

Faz amanhã 39 anos que Portugal mudou de regime político.

Para o bem ou para o mal, essa data é incontornável, ainda que ultimamente pouco mais signifique do que uma carta-branca para o laxismo, a estupidez e a preguiça que mais tarde ou mais cedo nos levam ao curral qual rebanho sem razão.

Antes de mais esclarecer que, dentro de um conceito puramente intelectual, sou um democrata. Acredito piamente no conceito da Democracia como o governo do povo pelo povo e para o povo. Infelizmente, de conceitos vagos de prática pública, está o inferno e o Mundo cheio.

O meu problema é que a passagem do mito ao rito da democracia, temos de inevitavelmente retirar aos participantes, o poder de pensar, e logo de agir livre e conscientemente. Nenhuma democracia funciona com o povo, e isso vê-se na abstenção galopante a cada momento eleitoral.

Outro problema, é que a democracia implica e incute a preguiça. Ora bem, se tenho lá um caramelo que pense por mim, porque raio me vou chatear. Esta parece ser a ladaínha com que os nossos pequenos e mal utilizados cérebros são formatados, e que concorre paralelamente à ignorância imposta sob a forma de estudos para todos que mencionámos acima.

Existe um terceiro problema. Este conceito actual de democracia implica que durante o hiato entre momentos eleitorais, essa democracia seja substituída por uma mais curriqueira anarquia, para não chamar ditadura. Ora bem, se elegemos, e se corre mal, porque não mudamos, ou mudam por nós os que para isso também foram eleitos.

Podemos também dar como o exemplo a família como pilar de uma sociedade. Mas a família não é, e a meu ver não deve nunca ser, uma democracia. É, acima de tudo, uma ditadura da paternidade, e corre bem.

Amanhã correm 39 anos, tantos como os meus, desde que a democracia chegou a Portugal sob o signo do cravo. Pois, mas é como diz o Povo na sua infinita (mas muito pouco utilizada, muitas vezes calada e abafada, e geralmente manipulada) sabedoria: “uma no cravo, outra na ferradura.”

Mal sabiam os moços de estrebaria que este dito teria tão mais efeito e impacto nos últimos 39 anos.

Não, não procuro uma ditadura de novo, mas sei que o que temos só lhe é diferente por uma questão de maquilhagem, e sei o que quero. Chamemos-lhe o que quiserem, mas repensemos o regime em utilização, porque está claro que não resulta.

Mas sim, isso é verdade, estes 39 anos deram para que possa escrever isto sem medo de consequências e represálias, e isso é bom. Mas melhor, melhor, vai ser o dia em que eu puder ficar calado.

Boa comemoração da Revolução dos Cravos do 25 de Abril, e viva Portugal.