A minha Pátria é a Lingua Portuguesa II


Como dizia Fernando Pessoa, a minha Pátria é (mesmo) a língua Portuguesa. Digo isto certo de que algum saudosismo bacoco e que condeno se promete no texto que se segue, ainda que disfarçado de uma pseudo capacidade esilistica.
Sou um homem de línguas e, se não do mundo por impossibilidade chamemos-lhe logística, pelo menos de alguns mundos. Tanto dos interiores e pessoais em que sou não só o único habitante como o meu melhor público, como dos outros exteriores  bem reais onde sou mero visitante, ou como diria uma certa personagem de BD, um passante.
No entanto, e porque tenho a minha tuguice Portuguesa bem enraizada, raramente sinto saudades de “casa”.

Ora bem,  razão pela qual me deu para escrever este pequeno esboço de texto é que hoje me deu saudades de “casa”, me deu saudades da minha língua mãe, de ouvir falar português, e me sinto meio encabulado por perceber o que aqueles que de visitantes se tornaram habitantes do mundo sentem ao ouvir qualquer pequeno trecho de Portuguicidade, desta pátria que é a nossa fora de casa, aquela que podemos levar na mala sem ser travada nas fronteiras legais, e que podemos manter viva e próspera como qualquer ser vivo ou planta.

Bem, isto tudo para dizer que acabo de fazer uma rave de uma pessoa só num quarto de hotel nas Docklands ao som de tudo o que se fez e faz em Portugal em termos de música.
De Mata Ratos mais a bovina entidade materna da Chavala, que já estava com uma boa Carraspana com o Chico Fininho, enquanto viam os Cavalos de Corrida nas Dunas, onde Cristina e as Just Girls Dançam Nuas, entrando num Irreal Social normal de quem Quer Ver os Peixes a Voar, partilhando uma Chiclete com o Senhor Arcanjo antes que Chamem a Polícia.
Para  terminar só mesmo Telefonemas Eróticos à Cruela (*) e esta malta londrina das Docklands rende-se e joga-se aos pés deste vosso “reporter”.
A noite é um sucesso, as bebidas acabaram, e os holofotes vão-se desligando, e todos os convivas voltam aos seus Primeiros Beijos neste mundo que é só meu, e em que o Português mais um estado de espírito e de alma, é a pátria mesmo.

Nota do Autor: Nome dos grupos por ordem -  Mata Ratos, Lex Injusta, Peste & Sida, Rui Veloso, UHF, GNR, Roquivários, Amarguinhas, Essa Entente, BAN, Entre Aspas, TAXI, Essa Entente, Trabalhadores do Comércio, Reporter Estrábico, Capitão Fantasma e por fim Rui Veloso.

Um dia isto tinha de acontecer

By Mia Couto

Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

Quem fomos, quem seremos.

"Se não nos recordam quem fomos, nunca saberemos quem podemos ser."

Este é um princípio que acho basilar, e que curiosamente (ou talvez não), encontrei em diversos painéis publicitários em Gelida, Catalunha.

Pensemos nisto, procuremos ser menos críticos sem bases, tratemos de descobrir quem realmente fomos, e analisemos o porquê de nos quererem fazer esquecer quem fomos e, automática e inexoravelmente quem seremos.
Somos mais admirados por estrangeiros, que por nós mesmos, e isso deve-se tanto à nossa própria incúria, como a desejos de manutenção do poder de quem nos governou e governa.
Um povo sem História, é um povo sem história, sem interesse, sem vontades ou futuros, é um povo sem possibilidade de um objectivo comum, é um povo à beira e à espera do fim.
Sou Português, para alguns em demasia, mas sou-o porque sei quem fomos e temos capacidade de voltar a ser.
Inovações comparáveis aos descobrimentos temos várias e diariamente, basta que atentemos nelas mais do que nas desgraças que nos vendem as noticias.

Eu, Diogo Trindade....

Eu, Diogo Trindade, ou o caramelo da cruz no braço.

São Várias vezes me perguntam porque tenho estampado nas minhas camisas brancas uma cruz “templária”, e mesmo quando não verbalizam, vislumbra-se no olhar um de três comentários:
1º - Whatiiiii?????? / 2º - Este gajo é parvo. / 3º - Coitadinho é disainér.

A verdade é que posso responder de diversas formas e, com todo o respeito, em função de cada um dos meus interlocutores.
A primeira é simples, é um devaneio de criador. Sendo designer de vestuário, e sendo um amante de história em geral, e da portuguesa em partícula, estas imagens não são mais que uma colecção de moda, se assim o podemos chamar.
A segunda, e mais profunda e reservada para um interlocutor mais perspicaz, é que esta imagem, ao contrário do que possa parecer, nada tem a ver com uma religiosidade exacerbada, ou um cristianismo pujante. Tem antes a ver com um conceito de união intelectual que engloba não uma mas todas as religiões, não um mas todos os conhecimentos científicos, não um mas todos os grupos de visam a evolução do Homem como um ser de capacidades ainda desconhecidas.
A terceira por fim, e em parte resultante das duas anteriores, é que esta é a minha forma de demonstrar a minha “tuguice”.
Sou um português convicto, um patriota apaixonado e um admirador confesso do resultado de 900 anos de história e que se condensou numa palavra, desenrascanço. Sou o resultado de dezenas de povos, sangues, histórias, religiões, credos, cores, raças e etnias, e que todas respeito e aceito.
Sou o mestiço que Deus deixou ao Português para criar, sou um povo que marcha contra bretões e canhões, sou um povo que quer o mar que é nosso, e sou o povo que se junta, que se agrupa, que se une em torno das dificuldades e das alegrias.
Estas camisas significam para mim tudo isso, e tudo isso é Portugal.

Identidade vs Produtividade




"Praza a deus que todos, de um impulso, de um acordo de simultâneo e unido esforço, todos os portugueses, sacrificadas opiniões, esquecidos ódios, perdoadas injurias, ponhamos peito e metamos obra à difícil mas nao impossível tarefa de salvar, reconstituir, a nossa perdida e desconjuntada pátria - de reequilibrar enfim Portugal na balança da Europa."
Almeida Garret

Quem me conhece sabe bem que, apesar de trabalhador por conta de outrem, não concordo com muitos dos benefícios, em alguns casos, mimos excessivos que pululam no contracto laboral de hoje. Não concordo com os dois dias extras de férias por compensação por uma assiduidade que está implícita quando assinamos um contracto, não concordo com a impossibilidade ou dificuldade em despedir quem de facto se limita a cumprir os mínimos para evitar legalmente um despedimento, e por aí a diante até ao número excessivo de feriados e pontes e outras desculpas que se traduzem em semanas de fraca produção.
No entanto, e assentando este meu texto numa laicidade republicana, há símbolos, monumentos, e momentos da vida de um povo que não devem ser mexidos, sob pena de contrariar a ideia original.
Explico: a ideia subjacente à remoção dos feriados é o aumento da produtividade como salvação do nosso país, da nossa forma de vida, da nossa sociedade. No entanto, estes 3 conceitos só existem na medida em que os mantemos vivos em cada cidadão, e na medida em que ele os assume como a sua identidade nacional.
Não podemos retirar a língua com tantos e tantos anos de história, prémios e riqueza, não podemos retirar as fronteiras históricas e que tanta dor e suor custaram a todos os povos que da sua mescla criaram o Português, não podemos retirar do currículo escola os nossos 900 anos de historia e esperar que as próximas gerações não se transformem em indivíduos europeus sem pátria.
Em suma, não podemos retirar ao cidadão tudo aquilo que o identifica como tal, e ao mesmo tempo pedir-lhe que se esforce, que lute, que invista nesse mesmo tudo que lhe retiramos.
E neste conceito estão alguns dos nossos feriados. Se bem que não sejam unanimes na sua aceitação, a verdade e que o 5 de Outubro foi no dia 5, não no 4 ou no 6. Tampouco foi um dia virtual, móvel e dependente de outras condicionantes.
Não é o que este dia, ou outro qualquer dia histórico com significado e validação temporal, significa per si mas antes o que estes dias significam por todos nós, e como nos fazem sentir membros de uma família maior, o Povo Português.
Querem sacrifícios em nome do Povo Português?
Reabilitem sem medo esse conceito, esse povo, e aí toda a produtividade pedida e necessária aumentará.