Identidade vs Produtividade




"Praza a deus que todos, de um impulso, de um acordo de simultâneo e unido esforço, todos os portugueses, sacrificadas opiniões, esquecidos ódios, perdoadas injurias, ponhamos peito e metamos obra à difícil mas nao impossível tarefa de salvar, reconstituir, a nossa perdida e desconjuntada pátria - de reequilibrar enfim Portugal na balança da Europa."
Almeida Garret

Quem me conhece sabe bem que, apesar de trabalhador por conta de outrem, não concordo com muitos dos benefícios, em alguns casos, mimos excessivos que pululam no contracto laboral de hoje. Não concordo com os dois dias extras de férias por compensação por uma assiduidade que está implícita quando assinamos um contracto, não concordo com a impossibilidade ou dificuldade em despedir quem de facto se limita a cumprir os mínimos para evitar legalmente um despedimento, e por aí a diante até ao número excessivo de feriados e pontes e outras desculpas que se traduzem em semanas de fraca produção.
No entanto, e assentando este meu texto numa laicidade republicana, há símbolos, monumentos, e momentos da vida de um povo que não devem ser mexidos, sob pena de contrariar a ideia original.
Explico: a ideia subjacente à remoção dos feriados é o aumento da produtividade como salvação do nosso país, da nossa forma de vida, da nossa sociedade. No entanto, estes 3 conceitos só existem na medida em que os mantemos vivos em cada cidadão, e na medida em que ele os assume como a sua identidade nacional.
Não podemos retirar a língua com tantos e tantos anos de história, prémios e riqueza, não podemos retirar as fronteiras históricas e que tanta dor e suor custaram a todos os povos que da sua mescla criaram o Português, não podemos retirar do currículo escola os nossos 900 anos de historia e esperar que as próximas gerações não se transformem em indivíduos europeus sem pátria.
Em suma, não podemos retirar ao cidadão tudo aquilo que o identifica como tal, e ao mesmo tempo pedir-lhe que se esforce, que lute, que invista nesse mesmo tudo que lhe retiramos.
E neste conceito estão alguns dos nossos feriados. Se bem que não sejam unanimes na sua aceitação, a verdade e que o 5 de Outubro foi no dia 5, não no 4 ou no 6. Tampouco foi um dia virtual, móvel e dependente de outras condicionantes.
Não é o que este dia, ou outro qualquer dia histórico com significado e validação temporal, significa per si mas antes o que estes dias significam por todos nós, e como nos fazem sentir membros de uma família maior, o Povo Português.
Querem sacrifícios em nome do Povo Português?
Reabilitem sem medo esse conceito, esse povo, e aí toda a produtividade pedida e necessária aumentará.