Portugal, e o 10 de Junho.

VALSINHA DAS MEDALHAS

Letra: Rui Veloso e Carlos Tê
Música: Rui Veloso
Arranjos: Hermenegildo Duarte

"Já chegou o dez de Junho, o dia da minha raça
Tocam cornetas na rua, brilham medalhas na praça.
Rolam já as merendas, na toalha da parada
Para depois das comendas, e Ordens de Torre e Espada.
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha.

Encosta o teu peito ao meu, sente a comoção e chora
Ergue o olhar para o céu, que a gente não se vai embora
Quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos.

Já chegou o dez de Junho, há cerimónia na praça
Há colchas nos varandins, é a Guarda d'Honra que passa
Desfilam entre grinaldas, velhos herois d'alfinete
Trazem debaixo das fraldas, mais Indias de gabinete
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha."  

Chamem-me lamechas, chamem-me patriota, chamem-me o que quiserem que o orgulho que sinto por ser português ultrapassa isso tudo.
E esta pequena música do Rui Veloso e do Carlos Tê diz tudo, do bom e mau, do que significa ser português.
Ao fim de um ano de austeridade oficial, porque a outra já nos atinge há anos, para não dizer décadas ou séculos, e depois de ter assistido à entrega de todas as "comendas, e Ordens de Torre e Espada", só uma coisa se me oferece dizer: "Eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos."
Porque é todo um povo que merece ser comendado, merece ser elogiado, merece uma palavra de apoio, porque mesmo sem esse mimo conseguiu chegar longe, e contra todas as melhores expectativas dos países ricos do mundo.
Somos, ainda que nos queiram fazer esquecer isso, um povo forjado pelas dificuldades e pela pequenez do país, criado a partir do homem simples que se fez ao mar e ensinou outros povos a serem grandes, um povo que quando confrontado com a crise e a austeridade ainda se deixar governar, mesmo que mal.
Somos pessoas simples mas de coragem, somos pessoas pobres mas com uma riqueza interna que permite rir e criar anedotas da mesma crise que nos assola.
A melhor imagem que encontrei para ilustrar este texto é esta, a da nossa bandeira feita com pessoas.
Isto é Portugal, isto somos nós, isto é o espírito de 9 séculos de história, que tanto medo criam ao resto do mundo.