Nasci tarde, num mundo que não compreendo - Parte I

Para quem, como eu, estuda, lê ou minimamente se interessa pelos mitos arturianos, a passagem que vou resumir é inteligivel.
Para todos os outros, por paralelismos pessoais também o será, estou certo.

Depois da união do reino bretão e da paz conseguida, a Távola Redonda perdeu parte da sua razão de ser e que era, de forma simples, a busca do ideal de cavalaria, a busca metafórica do homem no seu interior, e a busca de uma razão superior aos homens. Nasceu assim a demanda do Graal, a qual levou ao gradual desmembramento da Tavola por perda e morte dos seus cavaleiros.
Durante cerca de dez anos, Artur viveu sozinho, separado de uns por traição, e de outros pela cega obediência que lhe dedicaram e os levou aos sete cantos do mundo numa busca que não estava no mundo, mas em cada um deles e que, inicialmente, lhes permitira edificar o reino dos reinos.

Histórias à parte, e não ousando considerar-me uma encarnação do rei dos bretões, ultimamente sinto-me também eu meio perdido.
Acreditando ou não em vidas passada e ensinamentos primordiais, a verdade é que sempre pautei a minha vida por uma adaptação moderna de alguns ideais de cavalaria.
Sei que alguns me vão contrapor a medievalidade que me assiste com tudo o que de mau existiu, e que não nego. Nem há 500 anos, nem hoje.
Mas a verdade é que me sinto forjado por ideais e valores simples, mas imutáveis. Alguns talvez pouco lógicos e que resultam mais em prejuízo pessoal, mas que me garantem uma consciência tranqüila, ainda que eventualmente triste.
Sou dos que morre e mata por amor, sou do tempo da honra e dos compromissos, dos amigos como irmãos, dos irmãos como amigos.
Em suma, não sou deste tempo.

Mas, como nas histórias de cavalaria, também nem tudo é negro e sombrio.
Se alguns cavaleiros nos traem, outros valorosos e mais cultivados nas artes medievais, aparecem e lembram-nos que a vida é um círculo de experiências, e que uma ferida é um ensinamento. Lembram-nos que a vida é uma mesa farta, grande e cheia de risos e choros, em que os convidados vão mudando, desde que tragam para a mesa e dela levem a mesma quantidade de ensinamentos e alegria.
E temos também as princesas, que nos lembram que a beleza é algo divino, e eterno, e partilham os nossos pesos como mais ninguém o fará.
Não, não sou deste tempo, mas este também é o meu tempo.